Saturday, February 24, 2007

Esta é a seleção de músicas livres que estou fazendo. Vou chamá-la de "Som na Rede volume 1". Ainda não está pronta. Mas quem quiser já pode ir ouvindo o que eu já selecionei. Estou procurando músicas nos estilos acidjazz, groove ou funk.

  

Thursday, February 15, 2007

Hoje eu traduzi pro português um trecho de uma palestra do Stallman que achei bastante interessante. Podemos refletir sobre o "Computador para Todos" quando ele fala da adoção de software livre sem a devida educação sobre a importancia das liberdades que inspiram o movimento.

Segue a tradução:
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Para que as pessoas defendam sua liberdade, as pessoas precisam valorizar sua liberdade, precisam apreciá-la. E para que as pesoas apreciem e valorizem sua liberdade, primeiro elas precisam saber que liberdade é esta. Em outras áreas, a maioria das pessoas já ouviu falar de direitos humanos. Isso não significa que defender os direitos humanos seja uma tarefa fácil, mas pelo menos nós não precisamos sair por aí explicando para as pessoas o conceito. Nós não precisamos iniciar explicando pras pessoas o que significa liberdade de imprensa como se elas nunca antes tivessem ouvido falar a respeito. O conceito de liberdade de imprensa teve séculos para se desenvolver e espalhar-se pelo mundo.

Mas a computação é algo novo. Faz apenas cerca de dez anos que um graende número de pessoas nos países mais ricos vêm usando computadores. E faz apenas algumas poucas décadas que existem computadores. Portanto, as idéias sobre quais direitos humanos devem acompanhar o uso de um software estão apenas começando a ser desenvolvidas. O movimento do Software Livre diz que há quatro direitos humanos essenciais para um usuário de software. [[ Nota do tradutor: mais informações sobre isso em http://www.gnu.org/philosophy/free-sw.html ]] Esta é uma idéia nova. A maioria das pessoas que usam software nunca pensaram sobre a questão de quais direitos humanos um usuário e software deve ter. Eles simplesmente aceitam o que lhes foi dito, ou seja, os direitos humanos atribuídos ao usuário são: nenhum de fato.
É isto que os desenvolvedores de software proprietário lhes dão. É isso que eles vêem quase todo mundo aceitando. É isso que eles fizeram. E eles nunca ouviram ninguém dizer que há outra idéia. Portanto nós precisamos de fato começar pelo passo número um, que é dizer às pessoas o que significa ter liberdade ao utilizar um software. E então podemos ter a esperança de que aquelas pessoas irão valorizar estas liberdades o suficiente para defendê-las de modo que elas possam continuar sendo livres. O futuro de nossa comunidade depende do que nós valorizamos, mais do que qualquer outra coisa.
E é por isso que é tão importante hoje em dia ensinar as pessoas sobre os ideais do movimento do Software Livre. Não é suficiente apenas ensinar as pessoas a usar Software Livre. É claro que espero que as pessoas utilizem Software Livre, por que é uma vergonha se elas estiverem utilizando softwares não-livres que subjugam o usuário. Ma apenas utilizar Software Livre não é suficiente se queremos ter liberdade que dure muitos anos. Se amanhã nós dessemos liberdade a todas as pessoas que utilizam computadores, mas elas não soubessem o significado dessa liberdade, dentro de cinco anos muitas delas teriam perdido esta liberdade por que alguém teria dito a elas " Eu tenho um programa bacana que irá tornar as coisas mais fáceis, você quer? É claro que você vai ter que me prometer que não vai compartilhá-lo com ninguém, e eu não o deixarei ver o que há dentro dele, mas é um programa bacana, você não o quer? "
Uma pessoa que não tenha aprendido a pensar que há algo errado ali poderia responder sim. E isto significa que sua liberdade teria parcialmente se perdido. Portanto, não é suficiente dar liberdade às pessoas. Nós precisamos ensinar as pessoas a reconhecê-la como liberdade de modo a aprenderem a valorizá-la e então defendê-la e não deixá-la fugir. É disso que precisamos se queremos ter liberdade não apenas amanhã mas permanentemente.

Richard Stallman, 9 de março de 2006

Richard Stallman iniciou o projeto GNU em 1983 e, com ele, o movimento do Software Livre.

Fonte (com o texto e gravação em áudio da palestra completa em inglês): http://www.fsfeurope.org/documents/rms-fs-2006-03-09.en.html

Thursday, February 01, 2007

Concordo que é, no mínimo, exagerada a posição sobre os danos ao meio ambiente que podem ser causados pelo Windows Vista. Mas quero ressaltar o que acredito ser o mais importante desta notícia da slashdot : o motivo. Pra que atualizar o hardware? Para aguentar a nova interface gráfica do Windows Vista? Também...

Mas mais importante é notar aquela sigla que foi utilizada (DRM) que talvez nem todos conheçam. Significa "Digital Rights Management". Resumindo, são técnicas de proteção de conteúdo multimídia digital. O Vista virá com isso para melhor se adequar à crescente pressão da industria de entretenimento que vê na internet o possível colapso de seu império.

Outro dia eu comprei um CD que usava uma dessas técnicas. O DRM simplesmente não permite que vc copie as músicas do CD para um mp3player portátil. Ele RESTRINGE os usos que vc pode fazer com a música que VOCÊ COMPROU! Sob o pretexto de combate à pirataria, eles cada vez mais limitam os usos legítimos que vc poderia fazer com sua mídia adquirida legalmente. No caso do CD que eu comprei, o DRM deles foi feito para Windows, e como no meu PC roda linux, o DRM simplesmente não funcionou. Mesmo no winXP seria possível se livrar do DRM apenas desabilitando o auto-run do CD. Entretanto, a nova versão do windows (o Vista) virá com novos mecanismos que, através de criptografia, torna virtualmente impossível para um usuário comum driblar estes bloqueios. E por se tratar de um sistema de código fechado, eles conseguem garantir que o código de proteção não será removível, efetivando assim seu domínio sobre as atividades dos usuários.

Obviamente, hackers conseguirão burlar estes mecanismos, mas não é isso que devemos esperar. Não devemos passivamente aguardas a "vitória" silenciosa do "dá-se um jeito". Pois não seria uma vitória. Seria a aceitação da submissão aos poderes destes grandões. Devemos nos engajar a todo custo em barrar estes abusos. As pessoas precisam se manifestar e tornar claro tanto para estas megacorporações quanto para os governos que as regulam (ou que deveriam regulá-las) que estamos indignados e não aceitamos estes insultos.

(aliás... só de passagem, em 1998 foi aprovado nos EUA o "DMCA = Digital Millenium Copyright Act" que torna ilegal a utilização, o desenvolvimento e a distribuição de tecnologias que permitam burlar mecanismos de DRM. Ou seja, em muitos casos, governos estão dando suporte a esse império)

Como vc poderá ler nos 2 artigos abaixo (caso se interesse), muito do hardware extra necessário no Windows Vista não será útil para melhorar desempenho, ou prover novas funcionalidades. Será, na verdade, útil para garantir a continuidade do império. Para engordar mais os bolsos de Hollywood às custas de... "usuários inocentes"?

Não é à toa que a campanha anti-DRM da FreeSoftwareFoundation chama-se "Defective by Design", em bom português, "Defeituoso por Projeto" ( http://www.defectivebydesign.org )

Windows Vista precisa de MAIS hardware pra ter MENOS funcionalidade!

vejam os artigos:

* http://www.theinquirer.net/default.aspx?article=25124
* http://www.meiobit.com/industria/restricoes_usando_drm_no_windows_vista

Juca
A análise a seguir exemplifica o aprimoramento da participatividade e do poder de ação política propiciado pela Internet como ferramenta de interação na esfera pública em rede em contraposição às características da esfera pública mediada pela mídia de massa comercial.

A história escolhida para tal trata da polêmica em torno do sistema de votação eletrônica produzido pela Diebold, uma das empresas fabricantes de urnas eletrônicas certificadas para as eleições de 2004 nos Estados Unidos. Apesar de ser um debate a respeito de votação eletrônica, não é isto que o torna pertinente à democracia. O debate poderia tratar de qualquer prática corporativa ou de governo que fosse difícil de investigar e analisar, tivesse graves implicações e que fosse amplamente ignorada pela grande mídia. O fato relevante aqui é que a esfera pública em rede se mobilizou e conseguiu, com sucesso, transformar algo que não era pauta de discussão pública séria em uma discussão pública que levou a ações públicas concretas.

Urnas eletrônicas foram utilizadas em escala substancial pela primeira vez nas eleições de novembro de 2002 nos EUA. A cobertura da mídia ressaltava principalmente a novidade do mecanismo com leves referências à possibilidade de eventuais falhas, mas sem nenhum questionamento severo quanto à segurança do sistema. Sem dúvidas, uma análise profunda não seria uma tarefa fácil dada a necessidade de alto grau de conhecimento a respeito de segurança de computadores e o fato de o assunto ser tratado como altamente confidencial. Entretanto, devido a uma série de fatos, a tarefa mostrou-se viável para um grupo de voluntários organizados através da Internet.

Ao final do mês de janeiro de 2003, Bev Harris, uma ativista especializada em urnas eletrônicas descobriu um site da Diebold onde encontravam-se milhares de arquivos com informações confidenciais sobre suas urnas indevidamente acessíveis ao público. Mo início do mês seguinte, ela publicou 2 artigos em um jornal online neo-zelandês. Além disso, organizou em seu site um espaço para pessoas com conhecimentos técnicos discutirem a respeito de suas descobertas. No início de julho, ela publicou uma análise dos resultados das discussões mostrando como o acesso ao material poderia ter sido usado para afetar os resultados das eleições de 2002 no estado da Georgia. Num editorial anexado à publicação os editores do jornal online adicionaram a seguinte nota que ressalta diversas características da esfera pública em rede:

"Nós agora podemos, pela primeira vez, revelar a localização do site onde encontra-se todo o material. Como podemos prever tentativas por parte da Diebold de evitar a distribuição destas informações, nós encorajamos os apoiadores da democracia a fazer diversas cópias destes arquivos e disponibilizá-los em websites e redes de compartilhamento de arquivos: http://users.actrix.co.nz/dolly/. Como muitos destes arquivos estão protegidos por senhas você pode precisar de ajuda para abri-los. Nós descobrimos que a ferramenta disponível em http://www.lostpassword.com/ funciona bem. Por fim, alguns arquivos estão danificados, mas esta outra ferramenta pode ser útil para recuperá-los: http://www.zip-repair.com/. Neste estágio, acreditamos que ainda não chegamos nem remotamente próximo de investigar todos os aspectos destas informações; ou seja, não há razão para crer que as falhas de segurança encontradas até agora sejam as únicas. Portanto, esperamos novas descobertas em breve. Pedimos a assistência da comunidade online de especialistas em computação para nos auxiliar nesta busca e os encorajamos a arquivar suas descobertas em nosso fórum de discussões."

Muitas características desta convocação seriam inviáveis na mídia de massa. Ao das acesso ao material cru completo e usar a estratégia de replicar a informação para que seja impraticável censurá-la leva-se o discurso público a nortear-se pelo "veja com seus próprios olhos" em vez do "confie em nós" típico da mídia de massa.

Além disso, não foi necessário investir enormes quantias de dinheiro para contreatar especialistas. Ao contrário, voluntários que acreditavam na importância do assunto se dispuseram para a tarefa colaborativa. Este curto parágrafo delineia mecanismos radicalmente decentralizados e estratégicos de armazenamento, distribuição, análise e divulgação dos arquivos da Diebold.

Enquanto isso, novos problemas estavam surgindo para a empresa. A revista norte-americana "Wired Magazine" informou em agosto de 2003 ter recebido de um hacker uma cópia de milhares de emails internos da Diebold e enfatizou este fato como outro exemplo do desleixo da Diebold em relação à segurança. A revista não publicou o conteúdo dos emails. Entretanto, a ativista Bev Harris, também recebeu cópias dos emails e os expôs ao escrutínio público em seu site. A empresa respondeu perante a justiça requisitando a retirada do material do site.

Entretanto, os esforços da empresa foram fúteis perante a determinação dos ativistas engajados na distribuição irrestrita do material. Estudantes de diversas universidades dos EUA começaram a replicar cópias dos emails. As universidades receberam cartas requisitando a remoção do material de seus servidores. Os alunos foram obrigados a fazê-lo, mas , no que foi por eles descrito em 21 de outubro de 2003 como "desobediência civil eletrônica" cópias dos emails foram re-distribuídas em redes peer-to-peer de compartilhamento de arquivos (as mesmas redes que são freqüentemente criticadas por seu uso para pirataria de músicas e vídeos). Novamente, a participação de indivíduos de todo o país impossibilitou a censura do material.

Estes emails continham, entre muitos outros relatos problemáticos, evidências de que algumas das urnas utilizadas nas eleições em 2004 haviam sido modificadas após a certificação. Estas informações levaram à decertificação de parte das urnas da Diebold.

NOTA: A Diebold além de fornecer 75 mil urnas para as eleições nos EUA, foi responsável, em parceria com a PROCOMP, pelas urnas eletrônicas utilizadas no Brasil.

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Texto adaptado para o português a partir do original de Yochai Benkler no livro "Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom" ("A riqueza das redes: Como a Produção Social Transforma os Mercados e a Liberdade")

O livro está disponível na íntegra para download em http://www.benkler.org/ sob a licença livre Creative Commons Attribution Noncommercial Sharealike http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/